quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

De férias. E inventando...

De férias, sem fazer nada, resolvi inventar um desafio: fazer panquecas com cara e gosto de comida caseira, daquelas de mãe ou, no mínimo, com cara de Ana Maria Braga. A missão: utilizar somente ingredientes que não fossem gourmet. Pois é! Despido da dolman e de todos os meus preconceitos, fui ao supermercado e voltei com frango cozido, desfiado e congelado (dica da Dani!), latinha de milho verde, palmito já picadinho, mussarela ralada e (pasmem!) Pomarola. Nunca achei que ia comprar isso, muito menos postar num blog. Claro que os ingredientes receberam um ou outro toque, como um pouco de azeite e pimenta-calabresa no molho de tomate. O resultado: o prato ficou muito bonito e as panquecas ficaram deliciosas. Não sobrou nenhuma...


Pensando bem, acho que estou com falta de família. Preciso visitar minha mãe urgente!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O que estou lendo agora

Lendo não, saboreando! Acabei de ganhar de aniversário o livro que estava namorando há um tempo: Noma: time and place in nordic cuisine (René Redzepi, Phaidon, 2010). Como já disse num post anterior, o livro mostra o sensacional trabalho do chef dinarmaquês no seu restaurante que foi eleito o melhor do mundo pela resvista inglesa Restaurant.


Do livro só posso dizer uma coisa: maravilhoso! As noções de terroir e a utilização de ingredientes locais são realmente o futuro da Gastronomia. O futuro não, o presente! E adeus ar de cenoura...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pra fazer bonito

Um petisco fácil de fazer, daqueles que não dá errado nem se a gente quiser, e que, com certeza, vai agradar todo mundo. É só pegar um pacote de linguicinha tipo coquetel (de boa qualidade, claro!), separar e deixar cozinhar em uma garrafa de espumante ou frisante doce até secar. Eu aprendi a fazer com sidra (daquelas bem vagabundas!), mas acho que mais uns cinco a dez reais fazem toda a diferença!


No momento de servir, salpique uns flocos de pimenta-calabresa e deixe todo mundo se deliciar. Elogios garantidos sempre!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O que estou lendo agora

Um livro, quase um almanaque, bem interessante, com estudos que revelam vexames de heróis nacionais e derrubam mitos sobre índios e negros. É o Guia politicamente incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch, Editora Leya, 2009). Para o autor, é a preguiça dos autores de livros escolares que ajuda a eternizar versões maniqueístas da historiografia do país, quase sempre contada como um embate entre mocinhos e bandidos, colonizadores versus explorados, ou uma devoção cega a heróis e ídolos oficiais.
 

Você pode estar se perguntando o que faz este livro num blog de Gastronomia. É que, dentre vários outros mitos desfeitos, ele conta que a feijoada, ao contrário do que aprendemos de seu nascimento nas senzalas, tem origem europeia. E quem diz isso é o próprio folclorista Câmara Cascudo, ele mesmo nem tão politicamente incorreto. "Conforme o que ele conta no livro História da alimentação no Brasil, nem índios nem negros tinham o hábito de misturar feijão com carnes. A técnica de preparo vem de mais longe: o Império Romano. Desde a Antiguidade os europeus latinos faziam cozidos de misturas de legumes e carnes. Cada região de influência romana adotou sua variação: o cozido português, a paella espanhola, o bollito misto do norte da Itália. O cassoulet, da França, criado no século 14, é parecidíssimo com a feijoada: feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco. Com feijão preto, espécie nativa da América que os europeus adoraram, o prato virou atração entre os brasileiros mais endinheirados. A citação mais antiga que restou sobre a feijoada mostra a refeição bem longe das senzalas. No Diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, o elegante Hotel Théâtre, de Recife, informa sua nova atração das quintas-feiras: feijoada à brasileira."

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Flores! Não precisa falar mais nada

Quer uma dica de um lugar de um lugar que vai te surpreender? Se você ainda não conhece, claro! Flores Restaurante: o local ideal para curtir uma excelente comida, boa companhia, boa música, num ambiente charmoso e intimista, com um certo requinte, ainda que com ar caseiro. Um recanto intocável logo ali na Serra, uma experiência gastronômica para ficar na memória.


Foi lá que comi um belo prato de ravioli de brie e framboesa com confit de pato. Perfeito! Irretocável! Surpreendente! O toque do manjericão combinando com a pungência do pato e o doce da framboesa, lembrando sabores do oriente. Inesquecível!


FLORES RESTAURANTE
Rua Oriente, 609 - Serra
(31) 3227 6760
http://www.floresrestaurante.com.br/

O pão nosso de cada dia

O pão foi, certamente, um dos primeiros alimentos elaborados e transformados pelo homem. Desde que dominou o fogo e começou a se agrupar, o pão está presente em sua história. Mais do que um alimento, essa criação milenar tornou-se um traço de identidade entre povos e classes. Um fenômeno tão universal que não há cultura no mundo que não tenha sua forma própria de fazer pão.
Simples e sofisticado, banal e desejado, abundante e precioso, sagrado e vulgar. Termos antagônicos que cabem perfeitamente para o mais básico dos alimentos. Tudo porque uma simples massa de cereais moídos e umedecidos é capaz de se transformar, milagrosamente, num maná fumegante que fisga o olfato, acorda o apetite e hipnotiza a alma. Ninguém está imune ao aroma de um pão fresco.
O próprio ato de fazer o pão pressupõe o trabalho. Com as nossas mãos, com o nosso suor. é necessário trabalhar a massa, dar forma, cuidar do seu crescimento e do seu cozimento. O pão pressupõe, também, a divisão. Não se come um pão inteiro. Parte-se o pão, geralmente com as mãos. O pão foi feito para ser dividido, para ser compartilhado. A própria palavra companheiro vem de cum panis, aqueles com quem se come o pão. Comer o pão junto é aliar-se.
Por todos estes motivos o pão tem uma grande força mística e religiosa para a humanidade. O pão é vida. O pão dá a vida. Mitologias em todas as culturas mundiais alimentam a velha alma do mundo com algum exemplo de pão simbólico. Os judeus anunciavam e ainda anunciam: “Bendito seja Deus, que nos ordenaste tirar o pão da terra”. Para os católicos, o pão transfigurou-se no próprio corpo de Cristo. O homem santificou o pão e o respeita. Tornou-se o símbolo da vida e da sobrevivência. E, mesmo na cultura popular, todos sabem o quanto é difícil “comer o pão que o diabo amassou”.
Ainda hoje, o pão é o esteio da humanidade. Não seria nenhum exagero afirmar que, mesmo depois de todas as revoluções modernas e contemporâneas, a produção de alimentos continua sendo o eixo e a maior das atividades econômicas do mundo.
O pão – eterno alimento e denominador comum na saga da civilização humana – sempre foi um prenúncio da globalização. A nós, resta, agora, repetir o milagre da multiplicação e da partilha diante das nossas diversidades e adversidades. É como nos ensina a sabedoria popular: “Em casa que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”.