quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O pão nosso de cada dia

O pão foi, certamente, um dos primeiros alimentos elaborados e transformados pelo homem. Desde que dominou o fogo e começou a se agrupar, o pão está presente em sua história. Mais do que um alimento, essa criação milenar tornou-se um traço de identidade entre povos e classes. Um fenômeno tão universal que não há cultura no mundo que não tenha sua forma própria de fazer pão.
Simples e sofisticado, banal e desejado, abundante e precioso, sagrado e vulgar. Termos antagônicos que cabem perfeitamente para o mais básico dos alimentos. Tudo porque uma simples massa de cereais moídos e umedecidos é capaz de se transformar, milagrosamente, num maná fumegante que fisga o olfato, acorda o apetite e hipnotiza a alma. Ninguém está imune ao aroma de um pão fresco.
O próprio ato de fazer o pão pressupõe o trabalho. Com as nossas mãos, com o nosso suor. é necessário trabalhar a massa, dar forma, cuidar do seu crescimento e do seu cozimento. O pão pressupõe, também, a divisão. Não se come um pão inteiro. Parte-se o pão, geralmente com as mãos. O pão foi feito para ser dividido, para ser compartilhado. A própria palavra companheiro vem de cum panis, aqueles com quem se come o pão. Comer o pão junto é aliar-se.
Por todos estes motivos o pão tem uma grande força mística e religiosa para a humanidade. O pão é vida. O pão dá a vida. Mitologias em todas as culturas mundiais alimentam a velha alma do mundo com algum exemplo de pão simbólico. Os judeus anunciavam e ainda anunciam: “Bendito seja Deus, que nos ordenaste tirar o pão da terra”. Para os católicos, o pão transfigurou-se no próprio corpo de Cristo. O homem santificou o pão e o respeita. Tornou-se o símbolo da vida e da sobrevivência. E, mesmo na cultura popular, todos sabem o quanto é difícil “comer o pão que o diabo amassou”.
Ainda hoje, o pão é o esteio da humanidade. Não seria nenhum exagero afirmar que, mesmo depois de todas as revoluções modernas e contemporâneas, a produção de alimentos continua sendo o eixo e a maior das atividades econômicas do mundo.
O pão – eterno alimento e denominador comum na saga da civilização humana – sempre foi um prenúncio da globalização. A nós, resta, agora, repetir o milagre da multiplicação e da partilha diante das nossas diversidades e adversidades. É como nos ensina a sabedoria popular: “Em casa que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”.

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